Quando eu era pequena, me diziam muitas coisas que eu não podia fazer porque ia me "fazer mal". Minha avó me criu e não deixava chupar uma manga e tomar leite no mesmo dia, não podia comer fruta que estivesse grudada uma na outra, não podia pular amarelinha, assoviar e nem jogar baralho na quaresma porque "fazia mal".
Eu não era tão questionadora e não sabia as consequências de fazer uma dessas coisas. Eu simplesmente não fazia nada disso, pois tinha um medo danado de me "fazer mal".
De todas as coisas que falavam, a única que eu sabia direitinho o que significava qual era o "mal" que fazia, era deixar o chinelo virado pra baixo. Não sei quem foi que me explicou, mas só sei que me aterrorizava: "Não pode deixar o chinelo virado, senão a sua mãe morre". Eu tinha uma grande missão. Morava com minha avó e a chamava de mãe e minha mãe, morava em São Paulo. Quando eu via meu chinelo virado, corria para salvar a vida delas. Mesmo longe da minha mãe eu sabia que ela estava bem, pois eu a salvava sempre. E minha avó estava sempre forte e cheia de vida, dançando forró e usando vestidos escandalosamente estampados. Durqante anos eu segui com essa missão, até depois de adulta.
Mas, minha mãe adoeceu. E morreu. Hoje, eu vi meu chinelo virado e senti muita tristeza. Tantos anos salvando a vida da minha mãe e não adiantou. Passei pelo chinelo e deixei pra lá. Assim que passei, senti um aperto no coração, afinal, e a minha avó? Sei que tudo isso não passa de superstição, mas mexe com o coração da gente. E o chinelo, ah o chinelo? Eu desvirei!
Publicado em 27/07/2016 09:12
Um comentário:
Eu também não consigo deixar o chinelo virado não. E já ensinei minha filha a não deixar. Vai saber né?!
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