quarta-feira, 22 de março de 2017

Ela simplesmente se foi...

 "Quando penso em você, fecho os olhos de saudade (...)" Canteiros, Fagner
"(...) Alguém sentado à beira do caminho, jamais entenderá o que é que eu sinto agora Sou levado pelo movimento que tua falta faz Havia tanta paz no teu carinho, na despedida fez um dia lindo (...)" Retrovisor, Fagner

Eu tinha 3 anos, minha mãe 23. Ela foi me visitar na casa da minha avó,  e numa ocasião me contou que tomou um susto quando viu uma pessoinha correndo e dizendo: "a mãe tegou, a mãe tegou"

Com 10 anos,  decidi que ia morar com a minha mãe, que estava com 30 anos,  em São Paulo. Eu queria desfrutar do "bem bom" que minha outra irmã tinha! Que engano, minha mãe ralava tanto que eu mal a via.

 Quando fiz 14 anos, ela tinha 34, toda vigorosa, um mulherão!! Eu olhava atravessado para as roupas e para o jeito que ela se comportava. Eu ficava brava quando ela  me impunha regras e limites sem eu fazer nada, só porque eu a achava muito moderninha pra ser uma mãe.

Aos 18 anos, ela com 38,  tomei  meu primeiro porre de vinho porque estava distraída no computador. Achei que ia apanhar, pois eu era tão certinha e de repente tava lá vomitando bêbada na casa de uma prima. Mas não, ela me levou pra casa e me colocou no chuveiro.

 Aos 25  anos me casei. Minha mãe com 45 não gostou da ideia, dizia que eu tinha que "ferver mais". Achei que estava livre dela, mas bastou nascer a minha  filha para descobrir que o bicho “mãe” se transformara em  “avó”. Ela chegou antes de mim no hospital e vibrou muito quando a bebê nasceu.

Eu me aproximei muito mais dela depois de ser mãe, pude entender que nem tudo eram rosas e  ela me socorria em tudo. Até que ela veio me dizer que estava doente. Como assim? Agora que eu estava conversando mais, entendendo porque ela era do jeito que era?  Só ela tinha um papel de protagonista em algumas situações de minha vida, de minhas crises conjugais e tudo mais. Mas adoeceu. Durante a doença, eu ficava horas conversando e descobrindo o mistério daquela mulher.

 Mas assim, sem mais nem menos, com 49 anos, sem pedir licença ou permissão, sem data marcada ou ocasião para despedida, ela simplesmente se foi.  Hoje me pego sendo quase ela. Criando minha filha, ouvindo músicas que falam de amores mal resolvidos e  músicas alegres que enchem o coração. Ouço até os cantores que ela ouvia e que eu achava brega, comecei este texto com um deles. Termino com um trecho de uma música que ela nunca ouvirá, mas que faz todo sentido neste momento:

 "Segura teu filho no colo Sorria e abrace teus paisEnquanto estão aqui Que a vida é trem-bala, parceiroE a gente é só passageiro prestes a partir" Trem bala, Ana Vilela

    26/04/1960
 🕇25/03/2009 

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