E o boy dos anos 80 foi entrando na minha vida de uma forma bem legal! Na medida do possível, fui apresentando ele aos meus melhores amigos e familiares. Nossa, ele atendia a todas as minhas expectativas! Prestativo, simpático com todo mundo. Tinha tudo pra ser aquele que eu esperei. Mas havia um certo comportamento que me intrigava. Ele exigia que minha atenção fosse só dele e implicava quando eu falava com meus amigos. E olha só, eu falava somente por vídeos chamadas pois estávamos ainda confinados em casa por causa da pandemia. As únicas pessoas que eu tinha contato presencial, era com ele e com minha filha.
Boas notícias, chegou a Vacina! Eu já estava me animando com a possibilidade voltar a sair, ver gente logo após tomar a primeira dose de acordo com a idade. Sinto que depois que eu tomei a primeira dose, ele começou a demonstrar um comportamento obsessivo. Em várias situações, eu me senti coagida e diminuída. Ele nunca ficava feliz com as minhas conquistas e sempre brigava por eu não chamá-lo para "me ajudar". Muitas coisas eu fazia sozinha e não achava necessário acioná-lo até para trocar uma lâmpada! Ele tinha um jeito muito estranho de extravasar a raiva (socando parede, gritando, atirando coisas....), mas só quando estávamos sozinhos. Numa dessas crises, o vizinho até bateu no portão pra me perguntar se eu precisava de ajuda. Com vergonha, eu disse que não e que era bom saber que poderia contar com ele se eu precisasse.
Um dia ele se irritou muito por eu ter demorado a responder a mensagem dele. Isso rendeu horas de ofensas pelo celular. Eu bloqueei ele no meu celular pra evitá-lo. Para chamar a minha atenção, me marcou no Facebook me chamando de ridícula. Ele não interagia em nada no meu perfil resolveu publicar só porque o bloqueei pois já estava passando dos limites. No dia seguinte, ele veio até minha casa vestindo a roupa que eu mais gostava que ele usasse... e disse que conversaríamos como pessoas decentes. Eu estava sozinha em casa. Deixei entrar, sentei no sofá e ele se sentou no meio da porta da sala e pediu que eu só ouvisse. Começou a dizer que tudo era culpa minha, que eu era fria, que tinha que ser mal tratada e que eu não sabia fazer nada junto, que eu não precisava dele para nada, que eu não sabia dar valor ao amor que ele sentia por mim... e depois mudava o discurso dizendo que tudo aquilo era pra ficar perto de mim. Eu no sofá, ouvindo. Até que ele levantou-se e pegou a cadeira que estava sentado e com muito ódio no olhar, ameaçou me acertar com ela. Eu me encolhi e disse que chamaria a polícia. Quando viu que realmente eu estava ligando, ele saiu da minha casa. Depois de todo essa cena, eu soube por um familiar dele que eu não era a primeira namorada dele que tinha passado por isso. Então, registrei boletim de ocorrência.
Hoje, o "boy dos anos 80" não pode se aproximar de mim por causa da medida protetiva que foi concedida por causa desse relato. Terminamos dessa forma terrível. Mesmo com a medida protetiva ele ainda me manda e-mails pedindo perdão, com um discurso típico de homem agressor. Eu ignoro e ja avisei que se continuar vou denunciar novamente. Estou de cabeça erguida e orgulhosa de mim por não ter permanecido em um relacionamento em que o único futuro seria eu de cabeça baixa, afastada dos amigos e com medo. Pensei, qual o exemplo eu estou dando para minha filha? Ser independente, inteligente e alegre não é um defeito.
E sigo vivendo, não desisti do amor. Ainda acho que aquela pessoa vai aparecer e me fazer esquecer aqueles que não souberam me amar.
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